Monday, January 29, 2007

Test on International Relations (In Portuguese)

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-Rio
Instituto de Relações Internacionais – IRI
Formação do Sistema Internacional Contemporâneo
Prof. João P. Nogueira
Primeira Verificação

Primeira Questão

A Guerra dos Trinta Anos mudou radicalmente a forma como se davam as relações internacionais de poder na Europa do século XVII. Tentativas como a da dinastia Habsburgo de obter o domínio hegemônico sobre a Europa Católica já não seriam possíveis. Durante toda a história européia vemos uma alternância entre as potências de estabelecer um império no continente, porém a Guerra dos Trinta Anos se diferencia de tantas outras por ter sido travada ainda em uma época em que os estadistas tinham pretensões Universais e não aceitavam outro resultado senão a imposição de suas vontades sem preservação da liberdade dos derrotados. Os Habsburgo tiveram a chance de acabar com esta guerra obtendo o controle político sobre a Europa Central mas não aceitaram a condição desejada pelos protestantes desta região de escolherem suas crenças – ele queriam impor o catolicismo romano de qualquer maneira. Tal forma de governar se mostraria no mínimo ultrapassada em uma época em que Richelieu se encontrava liderando a política francesa. Richelieu inventou o que seria chamado de Razão do Estado, política que dominaria a Europa após a Paz de Westphalia. Mesmo a frente de uma França católica, Richelieu abdicou de seguir o comportamento moral padrão para colocar os interesses da França em primeiro lugar, mesmo que isso significasse financiar os adversários dos povos católicos liderados pelos Habsburgo. O Cardeal francês conseguiu eliminar a fragilidade da França cercada por um império Habsburgo em expansão justamente enfraquecendo a esta única potência Européia capaz de reivindicar o controle hegemônico sobre o continente. A Razão de Estado abriria caminho para outro conceito conhecido como equilíbrio de poder. Esta nova forma de pensar a política internacional pode ser entendida como um sistema anti-hegemônico. A Razão de Estado impunha aos governantes considerar os interesses dos estados em primeiro lugar, o que levou a uma política internacional mais objetiva e precisa por parte dos estados que já não mais estariam interessados em impor sua ideologia sobre outros povos ou tomar atitudes Universalistas do gênero pois o exemplo Habsburgo deixava claro que isso só enfraqueceria o estado. A busca pelo interesse nacional abria caminho também para alianças entre estados sem levar-se em conta as similaridades étnicas mas sim a validade estratégica – essa política de alianças flexíveis sem dúvida favoreciam o equilíbrio. A própria busca por parte de cada estado pela sua segurança impedia que qualquer outro estado se tornasse hegemônico na Europa. “Richelieu foi o pai do sistema moderno de Estado”, e os governantes (atores desse novo sistema) teriam que adaptar-se a nova forma de política internacional que transformava a Europa em um tabuleiro de xadrez onde se deveria calcular o poder relativo de cada potência, a necessidade ou não de alianças, a viabilidade ou não de ocupações e expansão territorial, enfim, ou custo benefício para o estado de cada atitude por parte de seus estadistas.


Segunda Questão

Novamente vemos a França influenciar decididamente a história européia e mundial. A Revolução Francesa trouxe ao mundo os ideais de Liberdade, Fraternidade e Igualdade, porém mais do isso, foi a precursora do primeiro estado-nação. Talvez pela primeira vez na história o povo inteiro de um país pegou em armas para defender um ideal e uma nação em que acreditavam. Aí estava a origem de um futuro estado democrático. A França se tornou tamanha ameaça na Europa principalmente por esse idealismo de sua população que estava disposta a tudo para defender a Revolução e levar o ideal libertador para todo o mundo. Pode-se considerar que a postura Francesa era uma nova versão do sentimento universalista e hegemônico que dois séculos antes era a justificativa para o expansionismo Habsburgo. Como conseqüência da Revolução um acordo entre a França Liberal e as demais potências absolutistas européias seria tão ideologicamente incompatível como um acordo entre os Católicos e Protestantes durante a Guerra dos Trinta. A solução viável era impor a nova ideologia na Europa assim como o seria impor o catolicismo. (Tal incompatibilidade ocorreria também na Rússia pós-17 já que a posição Russa de estimular Revoluções de tomada de poder em todo mundo era visivelmente uma barreira nas suas relações diplomáticas com o mundo capitalista). O Concerto Europeu veio então como forma de controlar esta França Revolucionaria com pretensões hegemônicas e restaurar a antiga ordem absolutista, ordem essa totalmente anacrônica como a história haveria de mostrar. A forma encontrada pelo Concerto para garantir a paz foi a super valorização da balança de poder como única política capaz de impedir novas guerras continentais. A balança de poder funcionou perfeitamente na Europa por um certo período de tempo e uma época de paz foi certamente conquistada pela simples inviabilidade prática de se seguir uma política expansionista visto que uma aliança anti-hegemônica era sempre uma realidade. Porém a grande estabilidade criada pelo concerto acabou por determinar que somente uma gigantesca força desestabilizadora poderia abalar suas estruturas. Esta força seria justamente o anacronismo dos estados autocráticos. A redivisão dos territórios conquistados pela França foi um exemplo disso. Esta divisão não observou de forma alguma a origem étnicas dos territórios que foram concedidos, por exemplo, a Áustria. Esta, aliás, já era um império em clara decadência e somente sua tradição possibilitou seu fortalecimento. Este fortalecimento de uma Áustria fraca se mostraria como uma das causas das Guerras Mundiais do séc. XX justamente pela contestação por partes de povos de origens diversas sobre a legitimidade do poder Austríaco. (Deve-se levar em conta, em favor do Concerto, que a fragmentação destes territórios seria causador de disputas entre as potências pelo controle dos mesmos – exatamente o que aconteceu com os territórios da Europa Central pós guerra dos trinta anos.) Em suma, o Concerto gerou uma grande estabilidade e decisivamente conteve o expansionismo da França. Porém a ainda existência de conflitos, o declínio da Áustria, a possibilidade do crescimento da Prússia visto o enfraquecimento da França e Áustria, o surgimento de novas potências mundiais, entre outros, acabaria por fazer do Concerto Europeu um simples controle supra-estrutural garantidor da paz enquanto a infra-estrutura estava cada vez mais gerando desequilíbrios que, pela simples natureza do Concerto, só aflorariam quando fossem demasiadamente fortes para serem contidos.


Quinta Questão

Dois séculos depois a política de Richelieu de prolongar a Guerra dos Trinta Anos para fortalecimento da França ainda marcava a estrutura do continente europeu. A fragmentação dos estados germânicos adiou, em muito, a unificação alemã que só ocorreu nas mãos de Bismark no século XIX. O intervalo decorrido até que a Prússia conseguisse estabelecer seu domínio sobre a Europa central foi o suficiente para gerar uma instabilidade que se prolongaria por décadas. A unificação tardia apesar de garantir à Alemanha se tornar uma potência européia, não possibilitou que ela participasse da fase inicial do imperialismo europeu e da divisão do mundo em colônias. Como conseqüência lá estava a Alemanha industrialmente uma potência, mas sem status de potência pela visível falta de um império colonial. Além disso, o surgimento de uma nova potência em uma época de Concerto Europeu foi uma tarefa complicada conseguida por Bismark devido a sua grande habilidade no jogo diplomático. Bismark conseguiu equilibrar-se em uma série de alianças aparentemente incompatíveis que garantiram a unidade alemã conquistada basicamente por uma seqüência de guerras. Esta realidade era por si só profundamente instável. Em primeiro lugar a unificação baseada em um nacionalismo alemão que só se mostrava (em princípio) em tempos de guerra é sem dúvida instável. Em segundo lugar um malabarismo diplomático também é impossível de ser mantido a longo prazo. Esta instabilidade foi ampliada quando Bismark foi afastado do poder por Guilherme II que claramente não queria ficar à sombra de Bismark, mas que não possuía objetivos claros que fossem governar suas decisões. Guilherme segundo sabia que governava a talvez maior potência européia da época mas não sabia como adquirir o status de grande potência. Assim talvez estava o povo alemão, que unido por guerras queria agora ter a certeza de que fazia parte de uma grande “nação”. Tudo isso gerou a seqüência desetabilizadora da política externa alemã. Inicialmente a própria não renovação de acordos com a Rússia demostrava uma menor habilidade política alemã do que nos tempos de Bismark. As intervenções em assuntos geo-políticos (como no caso de Marrocos) mostrava também uma falta de objetivos claros da política externa da Alemanha. Esta potência desestabilizadora e possívelmente imprevisível acabou por transformar a Europa em uma bomba relógio. O interesse de ser respeitada acabou se materializando na busca constante pelo crescimento do poderio militar. Sem saber como agir contra a nova potência continental, acabou unindo outras potências contra a Alemanha. Este foi o caso da França e Rússia, que possuíam problemas distintos com a Alemanha, mas que viram a necessidade de unir-se para conter tamanha força. A falta de visão por parte do governo alemão acabou também por possibilitar à França atrair para seu lado uma antiga rival: a Inglaterra. Esta última que, por seus conflitos com a Rússia e França, se esperava que entrasse em acordo com a Alemanha, acabou contra ela. Isto pode ser explicado pela falta de habilidade de Guilherme II em manter a Inglaterra como aliada, mas respeitando a política inglesa de mantedora da Balança de Poder. Ou seja, faltou à Alemanha um comportamento com objetivos claros e definidos que acabariam por gerar a Primeira Guerra. Deve-se mencionar, entretanto, que a vontade alemã de se tornar uma super-potência a qualquer custo, é, em parte, entendida pelo fato de grande parte da últimas guerras européias terem sido travadas em solo alemão, o que gerava necessariamente o medo de que isso voltasse a ocorrer. Também a busca por um maior nacionalismo alemão é fruto da falta de nacionalismo causada pela fragmentação da Alemanha pós guerra dos trinta anos (fragmentação esta que era interessante para a França, que buscava uma posição mais confortável através do enfraquecimento de seus adversários). Tudo indica a ausência de uma única causa para as Grandes Guerras do século XX.


(First published: December 2001)

Carpe Diem,

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